Malthus e as favelas

ANTÔNIO GOIS

Malthus e as favelas

RIO DE JANEIRO - Mesmo hoje, há quem ainda acredite que a solução para a pobreza no Brasil seja o controle compulsório da natalidade dos mais pobres.
O malthusianismo extemporâneo, no entanto, anda sofrendo duros golpes a cada nova pesquisa realizada pelo IBGE.
Na sexta-feira, o instituto divulgou dados do Censo que permitem comparar a população por bairros. Eles mostram que o número de crianças com até quatro anos de idade já está em queda em grandes favelas cariocas, como Rocinha, Alemão e Maré.
Ainda não é possível saber se a tendência é verificada nas demais favelas, e não significa que elas já pararam de crescer, mas é sintomático que tenha ocorrido, pela primeira vez, nas três maiores.
O aumento da escolaridade feminina é uma provável explicação, pois é altamente correlacionado com a queda da fecundidade. Com mais instrução, crescem as perspectivas profissionais e a capacidade de planejar melhor a gravidez.
Do início dos anos 1990 ao final da década passada, o percentual de mulheres em idade fértil analfabetas funcionais caiu de 27% para 10%. O índice das que completaram o ensino fundamental cresceu de 37% para 70%.
Mesmo em favelas -como provaram os demógrafos José Eustáquio Alves e Suzana Cavenaghi-, mulheres que completaram o ensino fundamental já tinham, em 2000, fecundidade inferior à média de dois filhos.
Sabe-se que a escolaridade feminina tem efeitos positivos também sobre a mortalidade infantil e o desempenho de crianças na escola.
A queda da população com até quatro anos, em áreas mais pobres, abre, portanto, uma janela de oportunidade. É hora de aumentar significativamente o gasto per capita no período mais importante do desenvolvimento do ser humano: a primeira infância.

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